visto que o citei na minha crítica, convidei o meu amigo marco a partilhar os seus pensamentos sobre o filme. assim o zombie inaugura a segunda opinião, e se o marco conseguir escrever mais do que um texto de três em três meses contem com mais críticas dele por aqui.tim burton não é macaco! okay, também não é um génio, mas tem os seus momentos; a título de exemplo:
ed wood ou
a nightmare before christmas... e, bem vistas as coisas, os dois primeiros filmes da saga
batman, quando comparados com as atrocidades que se seguiram, bem podem ser considerados obras-primas. mas não vamos entrar no campo das atrocidades, ou lá teríamos nós de desancar no burton pelo amaldiçoado
planet of the apes. importa aqui reter que tim burton é senhor de um imaginário muito próprio e tem as influências certas. O problema é quando perde o norte e mete os pés pelas mãos. felizmente, não acontece muitas vezes...
vamos falar de
big fish que, na sua essência, me fez lembrar uma frase da personagem de
bill pullman em
lost highway, de
david lynch, quando este responde ao detective que não gosta de camaras de vídeo porque gosta de recordar as coisas à sua maneira, não necessariamente como elas aconteceram. é desta perspectiva que edward vê a vida no mais recente filme de tim burton. a diferença é que para edward, esta parece ser a única perspectiva e, portanto, aos seus olhos, a mais pura realidade. claro que aos olhos de estranhos, edward não passa de um velho contador de histórias preso na sua própria mente. aos olhos do seu filho will, não passa de uma incógnita, alguém - um estranho - que nunca partilhou com ele um único facto não adulterado pela sua prodigiosa imaginação. Para sandra, mulher de edward e mãe de will, o passado do marido é uma experiência enriquecedora e digna de orgulho, mas para will, que ouviu as histórias do pai até à exaustão durante a sua infância/adolescência, é um passado em que ele não se consegue encaixar e que o leva ao afastamento. Quando edward entra na recta final da sua vida, sandra reúne novamente a família e will regressa com o desejo que seja este o momento de reconciliação com a realidade e com o pai. no entanto, o velho edward é um osso duro de roer...
tim burton realiza big fish com a mesma sensibilidade de
edward scissorhands e com o virtuosismo visual que lhe é típico. falta-lhe um pouco da escuridão a que burton nos habituou e peca pela extrema doçura, mas isso agora é uma questão de gosto pessoal. a mim não me incomoda, como também não me incomoda uma certa fragilidade na progressão da narrativa porque no final percebi a mensagem. aliás, percebi a mensagem muito antes do final, porque este é um daqueles filmes, uma daquelas histórias/fábulas, que só tem um caminho a seguir... para quê então perder tempo a vê-lo? talvez pelo prazer de redescobrir... como é dito no próprio filme, é como aquela história que se ouviu vezes sem conta e que já não desperta qualquer reacção até que um dia, numa determinada altura, numa determinada situação, se volta a ouvir e é como se a ouvíssemos pela primeira vez...
nota final:
ewan mcgregor interpreta o papel de edward enquanto jovem e não há nada a apontar ao seu desempenho, mas é óbvio que aquela personagem tem as medidas de
johnny depp... é um facto, não é produto da minha imaginação.
6/10
marco