Sexta-feira, 20 de Agosto de 2004

a date with elvis

elvis is everywhere...

numa das cenas cortadas contidas no dvd de pulp fiction, mia wallace profere as seguintes sábias palavras: "there's only two kinds of people in the world. beatles people and elvis people. now beatles people can like elvis, and elvis people can like the beatles. but nobody likes them both equally. somewhere you have to make a choice. and that choice tells you who you are." quanto a isto na minha mente nunca existiu qualquer tipo de dúvida. e com todo o respeito que me merece a banda responsável por rubber soul e revolver, sempre alinhei pela gente do elvis.

esta semana marcou o 27º aniversário do desaparecimento do rei, e o meu plano era comemorar a efeméride com mais uma incursão pelo recente dvd do mítico '68 comeback special, que já agora aproveito para recomendar a todos entre vocês que tenham ouvidos, mas o tcm programou uma maratona de 24 horas de filmes do elvis e, como é óbvio, não consegui resistir. como a tv cabo não disponibiliza a programação completa do canal, a coisa por cá ficou reduzida a quatro filmes, todos da recta final da carreira cinematográfica do rei, mas felizmente incluía dois que nunca tinha visto antes e o meu favorito de todos.

agora, antes que se comecem a questionar sobre a minha estabilidade mental, eu tenho a plena noção do grau de qualidade destas produções. 1968, o ano de estreia de três dos filmes que se seguem, foi o ano de clássicos universais como 2001: a space odyssey, c'era una volta il west e night of the living dead, e de alguns favoritos pessoais como diabolik, il grande silenzio, les biches e where eagles dare. mesmo em termos da carreira de elvis foi um ano importante por uma única razão: e emissão televisiva do já referido comeback special, que revitalizou a sua carreira após anos no limbo provocados, em grande parte, pela sua carreira cinematográfica e filmes da treta como estes.

as coisas podiam ter sido diferentes, talvez. convites de realizadores do calibre de nicholas ray e elia kazan, que viram em elvis potencial para protagonizar material mais sério, foram consistentemente recusados pelo seu infame agente, o coronel tom parker. não havia nos planos do coronel espaço para projectos arriscados e que exigissem que do rei algum tipo de diversidade dramática. elvis no écran não tinha de fazer mais do que interpretar-se a si próprio. parecer cool, cantar uma músicas, sacar a miúda e receber o cheque no fim. assim um inicio promissor com jailhouse rock e king creole acabou por parir apenas uma sucessão infindável de comédias musicais palermas, ao ritmo de três por ano, e elvis o músico viu-se reduzido à categoria de intérprete de bandas sonoras igualmente palermas. como podem ver, portanto, não me iludo quanto à qualidade destas produções. mas a verdade é que gosto de filmes palermas. e de música palerma. e a mim estas coisas divertem-me. admito que serão talvez guilty pleasures. mas com o ênfase muito mais no prazer do que na culpa.

elvis



girl happy (1965)
de boris sagal, com elvis presley e shelley fabares

não será o melhor mas é de certeza o meu favorito entre os filmes de elvis. aqui o rei é rusty wells, o (surpresa!) vocalista de um grupo de rock, que o patrão mafioso do clube onde está a actuar envia para ft. lauderdale para vigiar a filha que ali foi passar o spring break com as amigas. rusty e os rapazes da banda vêm a missão como umas belas férias rodeados de miúdas em fato de banho, mas acabam por perceber que proteger a honra da menina não vai ser fácil, não fosse ela interpretada pela deliciosa shelley fabares, na primeira de três colaborações cinematográficas com o músico. é óbvio que o nosso herói acaba apaixonado pela sua protegida e isso vai provocar outro tipo de complicações, visto que ela não sabe que ele ali está a mando do pai, e que este é um tipo com mau feitio. pode não ser mais do que escapismo desmiolado sem grande coisa que o redima mas, pelo menos para mim, é escapismo colorido, divertido e irresistível. não sei se são os números musicais, que incluem o idiótico (mas infeccioso) "do the clam" e os potentes "the meanest girl in town" e "wolf call", o strip improvisado de shelley fabares (a antecipar os spring breaks do gostas pouco, gostas), a imagem do rei em travesti ou as miúdas giras em bikinis dos anos sessenta, mas para mim a coisa funciona. e bem. (6/10)

stay away, joe (1968)
de peter tewksbury, com elvis presley e burgess meredith

um dos que vi pela primeira vez no decorrer desta maratona e, para ser sincero, a única altura em que senti que estava a desperdiçar o meu tempo. elvis é joe lightcloud, um índio que fez sucesso no circuito de rodeos, e regressa à reserva para tentar auxiliar a sua gente através de um plano governamental. apesar de um elenco secundário sólido, liderado por burgess meredith no papel do pai de joe, e contando com a presença de katy jurado, joan blondell e algumas starlets agradáveis à vista, o filme não funciona nem como comédia nem como musical, com um guião ainda mais débil e idiota do que o habitual e um retrato menos do que politicamente correcto dos índios. elvis, que nesta altura do campeonato já estava mais do que farto da sua carreira cinematográfica, aguenta corajosamente a provação, mantendo o seu ar confiante e divertido mesmo na cena ridícula em que tem de cantar a um touro. os números musicais, desta vez coloridos com tons country'n'western, também são para esquecer neste que é sem dúvida um dos pontos mais baixos na carreira do cantor dentro ou fora do cinema. (2/10)

speedway (1968)
de norman taurog, com elvis presley e nancy sinatra

depois de spinout e viva las vegas elvis está de volta às corridas de carros. aqui é steve grayson, piloto de stock cars às voltas com uma dívida monstruosa ao fisco e um agente que aposta todo o seu dinheiro nos cavalos. é claro que quando chega o cobrador é uma cobradora gira, interpretada por nancy sinatra, e portanto nem tudo é mau. com os bens pessoais na penhora, assim como todos os presentes que distribuíra à sua volta para ajudar amigos carenciados, a sua única esperança é vencer o famoso circuito de charlotte, tarefa que não vai ser facilitada por um acidente na qualificação. as cenas de corridas são excelentes, com alguns acidentes espectaculares, e elvis está lá bem no meio através de umas retro-projecções meio manhosas. mas isso faz parte do encanto da coisa e o filme é divertido, ritmado e tem estilo suficiente para ultrapassar esses defeitos técnicos. a química entre os protagonistas é excelente, assim como entre elvis e o seu sidekick bill bixby. nancy sinatra canta "your groovy self" e o rei rocka com "let yourself go" e canta "your time hasn't come yet, baby" a uma criancinha adorável. há ainda um engraçadíssimo número musical nos escritórios do irs e uma cena hilariante com uma empregada de mesa que não consegue parar de chorar. o clube que o nosso herói frequenta entre as corridas é demasiado parecido com o restaurante onde john travolta leva uma thurman em pulp fiction para ser coincidência. (5/10)

live a little, love a little (1968)
de norman taurog, com elvis presley e michele carey

outro que vi aqui pela primeira vez e mais um sob a batuta do veterano do studio system norman taurog, que realizou um total de nove filmes com elvis. desta vez temos uma história meio surrealista em que o rei se torna o centro das atenções de uma mulher com sérios problemas mentais. esses problemas nunca são bem explicados mas a menina parece ser maníaca obsessiva e ter múltiplas personalidades. claro que tratando-se de mais uma comédia musical desmiolada isso não servirá de empecilho a que se desenvolva o esperado romance entre os dois. não estavam de certeza à espera do a beautiful mind. também, tendo em conta que a menina é michele carey, qualquer coisa para cá da paralisia cerebral seria aceitável no meu ver. entretanto elvis, que é fotógrafo, divide o seu tempo entre uma conservadora agência de publicidade e uma revista tipo playboy (onde don porter faz uma bela imitação de hugh hefner). a temática é um bocadinho mais adulta do que em filmes anteriores, com uma boa dose de referências sexuais, mas não deixa de ser completamente ingénua pelos padrões actuais. os números musicais são mais espaçados e incluem uma bizarra sequência de sonho com a participação de um tipo vestido de cão. quem quiser encontrar a origem de "a little less conversation", que se tornou um sucesso depois de aparecer na banda sonora do remake de ocean's eleven, também a pode encontrar aqui. o filme é divertido apesar das suas fragilidades, tem estilo, e, para ser sincero, consigo lembrar-me de coisas piores para ocupar o tempo do que passar hora e meia a olhar para a michele carey em vestidos curtos, fatos de banho e camisas de dormir. (4/10)

jorge

publicado por jorge às 19:14
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De Anónimo a 22 de Agosto de 2004 às 15:40
eu também acho que devia estar. mas para ser universal era preciso o resto do universo concordar, certo? ;)
a paramount diz 2005. se for para que o filme tenha finalmente a edição especial que merece não me vou queixar...zombie
(http://zombie.blogs.sapo.pt/)
(mailto:zombie@sapo.pt)


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