Segunda-feira, 5 de Julho de 2004

o zombie já viu: spider-man 2

...

um filme de sam raimi
com tobey maguire, kirsten dunst, james franco e alfred molina
estados unidos, 2004 imdb

spider-man 2 é mais uma continuação do que uma sequela; por razões que não posso revelar, é também a finalização do filme anterior. o verdadeiro franchise só começará a partir da terceira aventura. claro que há um novo vilão, uma nova aventura para o currículo do homem-aranha, mas não é do super-herói que estou a falar. peter parker é o fulcro desta história. o homem-aranha é um dos super-heróis mais amados porque é também um dos mais humanos. o super-homem é extraterrestre, os x-men são mutantes, o hulk é verde, o batman é um vingador bilionário...

o homem-aranha é um miúdo na recta final da sua adolescência. vive com a família nos subúrbios, é um bocado lorpa, mas é boa pessoa e bom aluno. tem projectos para o futuro e, claro, a miúda dos seus sonhos mal sabe que ele existe. parece um cliché, mas não é... é pura realidade. puxem pela memória e verão que estou a falar daqueles miúdos que andavam na mesma escola - se calhar na mesma turma - que vocês... estou a falar daqueles que se calhar eram vocês.

se para nós o fulcro desta história é peter parker, para ele o fulcro - "de qualquer história digna de ser contada", como ele disse no início do primeiro filme - é uma rapariga: mary jane watson. m.j. é o centro de gravidade da sua vida. passaram de vizinhos a amigos, mas poderiam ser algo mais se parker não carregasse a responsabilidade que advém dos seus poderes de aranha (parker não quer que m.j. sofra por ser namorada de um super-herói, mas tendo em consideração o número de vezes por filme que ela está em perigo, eu interrogo-me qual seria a diferença?). mesmo a condição de amigos está ameaçada pelas constantes desatenções de parker.

as consequências da vida dupla que parker leva não se ficam pelas tristezas do seu coração. os seus empregos em part-time estão condenados ao insucesso e as notas escolares desceram drasticamente; a morte do tio ben continua a pesar-lhe na consciência e o seu melhor amigo continua obcecado por vingança depois de o homem-aranha ter morto o seu pai. tudo isto é areia a mais para a cabeça do jovem parker, que acaba encostado às cordas com uma brutal crise de identidade.

os seus poderes começam a falhar e não são raras as vezes que o homem-aranha se vê em queda livre depois de não ter conseguido lançar uma teia. estes eventos levam parker a questionar as suas opções de vida; talvez o lugar dele seja ao lado de m.j. e não nas paredes de nova-iorque; talvez ele deva voltar a ser aquilo que era e abandonar aquilo em que se transformou. os nova-iorquinos são crescidos... eles que corram atrás dos criminosos e deixem parker gozar um belo cachorro quente ao som das sirenes da polícia.

esta crise surge na pior altura. um super-vilão tentacular, dr. octopus, aterroriza a cidade. parker já não sabe o que há-de fazer à sua vida. para complicar, o seu amigo harry osborn vê neste vilão a oportunidade de se vingar do aranhiço. nova iorque precisa do homem-aranha, mas o homem-aranha precisa de um psiquiatra.

o primeiro spider-man era bom. o segundo é muito melhor. sam raimi expande a dimensão humana das suas personagens principais, aperfeiçoa os efeitos-especiais que no primeiro deitaram a perder a maior parte das cenas onde aparecia o homem-aranha, e incute-lhe o seu estilo visual deliciosamente acrobático.

com a confiança redobrada, o realizador arrisca muito mais e não erra. o drama agridoce é sincero, o humor é servido com precisão cirúrgica, a acção pontua os sítios certos da narrativa e os excessos não são incoerentes. o regresso de tobey maguire quase não se concretizava, mas o que seria o maior buraco do filme - maguire é perfeito para o papel -, acabou por resolver-se. kirsten dunst volta a dar corpo e alma a mary jane watson; a personagem não estagnou no primeiro filme e a actriz dá-lhe continuidade: m.j. cresceu e amadureceu.

os dois primeiros batman (tim burton, 1989 e 1992) estão entre os melhores exemplos do género, mas escavaram a personalidade das suas personagens apenas o mínimo necessário para lhes dar vida dentro do seu universo. hulk (ang lee, 2003) desceu mais fundo, expôs temas, abdicou da acção a favor da discussão e do espectáculo a favor do estilo. spider-man 2 faz da realidade o seu pano de fundo, não abdica do factor entretenimento e leva para casa o troféu de melhor filme de super-heróis de sempre (pelo menos até eu rever o superman de richard donner, 1978).

spider-man 2 dá já as cartas para a terceira aventura, com data de estreia agendada para 2007. raimi superou - e de que maneira! - as expectativas criadas com o primeiro, mas agora a fasquia está muito, muito mais alta. o mínimo que se pede é que seja tão bom como este... e claro, que os cameos de bruce campbell continuem a surgir.

(8/10)
marco

publicado por jorge às 17:18
link do post | favorito
De Anónimo a 6 de Julho de 2004 às 11:46
Se o Bruce Campbell está lá, eu estou lá. Bananita
(http://americantiger.blogspot.com)
(mailto:o@o.com)


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