Sexta-feira, 28 de Maio de 2004
um filme de
sam peckinpahcom
rutger hauer,
john hurt,
craig t. nelson e
meg foster
um filme de
david koeppcom
johnny depp,
john turturro,
maria bello e
charles s. duttonestados unidos, 2004
imdbdurante um extenso período da minha vida,
stephen king foi o escritor mais assíduo da minha mesa de cabeceira.
carrie,
misery,
the shinning e o indispensável
danse macabre - que ainda recordo como uma das obras de referência sobre o big bang do universo fantástico na literatura, no cinema e até na rádio são alguns dos incontornáveis títulos que moldaram a minha massa cinzenta...
(sim, isto explica muita coisa... sem dúvida.)
nos últimos anos, stephen king tem primado pela ausência nas minhas listas de leitura, excepção feita a um livro absolutamente essencial (pelo menos para quem escreve) chamado
on writing, escrito no período de convalescença do escritor depois do acidente que quase o vitimou. este afastamento foi puramente casual; tenho consciência de um certo declínio imaginativo de king, mas não foi por isso que o deixei de ler. as últimas histórias que li denunciavam já um certo cansaço, mas king nunca me desapontou no que toca a meter palavras no papel; as histórias poderiam já não ser a oitava maravilha do mundo, mas king é um contador de histórias nato e se porventura perdeu o dom de as inventar, o dom de as escrever manteve-se intacto. estes parágrafos foram a introdução ao texto que se segue e a minha vénia ao escritor que me inspirou a escrever.
dito isto, escusado seria dizer que a curiosidade de ver as suas histórias adaptadas ao cinema é sempre grande. seja o carrie, seja o
the mangler, dê por onde der, tenho de ver...
stanley kubrick,
brian de palma,
george a. romero,
john carpenter,
rob reiner ou
tobe hooper, são alguns dos realizadores que levaram as obras de stephen king ao grande écran. uns fizeram-no bem, outros nem por isso... no segundo caso, nada há a fazer senão lamentar. chegamos a david koepp, que adaptou o
jurassic park para o
steven spielberg, escreveu o
panic room para o
david fincher, e adaptou e realizou o
stir of echoes a partir de um romance de
richard matheson. não é muito, mas é suficiente para suscitar um mínimo de interesse ao ver o seu nome na realização da mais recente adaptação de uma história de king; mas o que realmente eleva a curiosidade neste caso é a dupla de actores principais: johnny depp e john turturro.
secret window, secret garden o filme chama-se apenas secret window - é uma das quatro novelas do livro
four past midnight e, como se tornou recorrente na obra de stephen king, um escritor é protagonista dos acontecimentos. depois de traído pela mulher e em pleno processo de divórcio, mort rainey refugia-se numa cabana isolada na floresta junto a um lago. há uma cidade próxima que frequenta apenas quando a necessidade de mantimentos aperta. passa a maior parte do tempo a dormir vestido no sofá da sala, mas entre sestas luta contra um bloqueio criativo que o impede de avançar o seu novo livro, fala consigo mesmo e desabafa com o cão. certo dia, um estranho bate-lhe à porta e acusa-o de lhe ter roubado uma história. depois da acusação o estranho apresenta-se, chama-se john shooter, abandona o local e deixa-lhe um manuscrito da sua história em tudo igual à de rainey, que se recusa a aceitar a acusação de plágio. shooter regressa, torna-se violento e a situação começa a ganhar contornos negros: o cão é morto, a casa da ex-mulher é incendiada e por aí fora.
secret window não é, de todo, tempo perdido. antes pelo contrário; se a ideia é passar duas horas entretido, o filme de koepp assegura isso e ainda nos brinda com a soberba interpretação de johhny depp. rainey é mais uma daquelas personagens excêntricas a que é difícil dar vida sem as deslocar do mundo e das personagens que a rodeiam. esta dificuldade deita muitas vezes a perder a coerência das relações e estabelece um fosso entre os níveis de comportamento das personagens que não é possível ignorar. não é o caso. depp dá a rainey uma existência real, credível e, mais incrível, sem se notar um mínimo de esforço. depois do pirata jack sparrow, depp volta a criar mais uma personagem digna de registo. turturro está igual a si mesmo e intocável. a adaptação/realização de koepp é eficaz, mas receio que secret window, secret garden seja uma daquelas histórias que enriquece mais quando lida e trabalhada pela imaginação do leitor.
(6/10)marco
um filme de
eric bress e
j. mackye grubercom
ashton kutcher,
amy smart,
william lee e
eric stoltzestados unidos, 2004
imdbrecomendo um perímetro de segurança em redor de qualquer sala que exiba o
the butterfly effect; é do piorio. algumas críticas que li destacavam-se das demais por não dizerem muito mal; diziam só um bocadinho mal. vai daí, na altura de comprar o bilhete, optei por este (a alternativa era o
van helsing, mas alguém deve ter banhado aquela película em repelente, portanto, permanece na minha lista de espera até não haver alternativa). os primeiros minutos um quarto de hora, mais coisa menos coisa - até passaram bem e prometiam. neste curto espaço de tempo, conseguiu criar mais suspense do que muitos filmes em duas horas. a sério, até o ashton kutcher me parecia bom actor.
nesse período, a situação foi-me exposta e eu percebi que este miúdo, evan, tinha graves problemas; falo de uma espécie de bloqueios que quando terminavam não lhe deixavam qualquer memória. ao espectador também não são revelados, mas se isto acontece durante momentos cruciais da sua adolescência e o puto é apanhado estático com uma faca de cozinha na mão, de certeza que não é coisa boa. evan cresce e vai anotando num diário o seu dia-a-dia, à excepção dos momentos que lhe faltam devido aos ditos bloqueios de memória. a coisa passa-lhe com o tempo e a sua vida ganha uma certa normalidade. isto, claro, até ao dia em que ele descobre que relendo certas passagens dos diários, próximas dos momentos onde a memória falha, consegue viajar para o passado e reviver esses momentos por inteiro. a surpresa não se fica por aí: evan tem o poder de intervir e mudar o rumo das coisas.
ou seja: ele lê umas quantas linhas, entra um efeito especial idiota e irritante, incarna em si próprio quando adolescente, bate o pé e corrige a situação mal resolvida. é aqui que entra a teoria do caos e o chamado efeito borboleta, que toda a gente já deve saber o que é porque foi apregoada a torto e a direito quando os dinossauros regressaram à vida em
jurassic park. para quem não sabe, significa que a mais pequenina coisa que façamos pode ter consequências catastróficas. perceberam? óptimo. o resto do filme é isso. evan vai ao passado, faz o que acha correcto, regressa ao presente e a sua vida, a dos amigos e a dos inimigos o resto do mundo não é para aqui chamado - está virada do avesso. algumas destas vidas são agora uma merda. regressa-se outra vez ao passado, altera-se mais qualquer coisa, regressa-se novamente ao presente e, voilá, todas estas vidas estão agora de um avesso diferente e são uma merda ainda maior... tal como o filme.
este vai e vem repete-se pelo que me pareceu uma eternidade e as várias vidas que estas personagens vão vivendo são de um ridículo que roça o absurdo. ashton kutcher ri, ashton kutcher chora; ashton kutcher de pé, ashton kutcher de cadeira de rodas; beto, presidiário... etc.. os bons tornam-se maus e os maus tornam-se bons... o sofrimento prolonga-se até ao suplício pela inconsciência (clorofórmio, por favor...).
eric bress e j. mackye gruber, argumentistas e realizadores de the butterfly effect, escreveram a sequela de
final destination. apesar de uns furos abaixo do seu predecessor,
final destination 2 ainda mereceu o meu respeito; é um filme que não envergonha ninguém e, mais importante, por mais desmiolado que seja, não chateia. the butterfly effect é desmiolado, chateia até dizer chega e é insuportavelmente ridículo.
(2/10)marco
Quarta-feira, 26 de Maio de 2004
o zombie não é por natureza um blog dedicado a notícias. no entanto quero abrir aqui uma excepção, porque isto é cool demais para passar ao lado. é, tanto quanto sei, a primeira imagem a ser divulgada de
godzilla: final wars, o filme com que a
toho pretende, ao fim de 50 anos dar finalmente o eterno descanso ao gigante. com a realização nas mãos de
ryuhei kitamura (que fez
versus e
azumi, dois favoritos do zombie), uma galeria de kaiju que inclui, além de godzilla, rodan, minilla, mothra, manda, ebirah, kumonga, kamacuras, gigan, anguirus, king caesar, hedorah, e o novo monster x, e imagens destas acho que vamos ter um épico para fazer a
trilogia dos anéis parecer um episódio dos
batanetes.
directamente do site oficial, para a pasta que o zombie reserva habitualmente para as imagens da
masuimi max, cá está ela. acho que vou precisar de um babete...
estreia no japão a 11 de dezembro. o vosso novo lugar de oração é em
godzilla.co.jp
Terça-feira, 25 de Maio de 2004
um filme de
david mametcom
val kilmer,
derek luke e
william h. macyestados unidos, 2004
imdbspartan é o título mas também pode ser todo o conceito. porque não existe nada no último filme de david mamet que não seja estritamente essencial. despojado até ao mínimo absoluto, spartan é magnifico na sua eficácia. é uma lição sobre como se devia construir um thriller.
"onde é que está a rapariga?" a pergunta é repetida dezenas de vezes. quem é a rapariga? porque é que o seu paradeiro é tão importante que exija a mobilização em peso do serviço secreto norte americano? as respostas a estas e muitas outras perguntas vão eventualmente surgindo, mas mamet nunca condescende com o seu público. desde o inicio somos atirados para o meio da intriga e não vale a pena esperar que de dez em dez minutos alguém interrompa convenientemente a acção explicando, para beneficio do público, o que raio se está a passar. por isso também não vou dar aqui muitas pistas sobre o enredo. há uma rapariga que desapareceu. há uma operação do serviço secreto para a encontrar. há um agente especial chamado para a investigação (kilmer). onde é que está a rapariga?
a economia narrativa estende-se à perspectiva da história que vemos exclusivamente pelos olhos do personagem de kilmer. nunca sabemos mais do que ele, em geral até sabemos menos. isto, associado à já citada ausência de exposição, poderia ser uma escolha arriscada num thriller político, mas a verdade é que tudo isso funciona a favor do filme. pelo meio há uma mensagem sobre os mecanismos da confiança, sobre o que é a verdade, e esta visão limitada dos acontecimentos estende perfeitamente a paranóia ao espectador.
o filme assenta numa grande interpretação de val kilmer, que nos últimos anos tem parecido sempre estar aquém do seu verdadeiro potencial. mas também com texto tão bom para dizer não admira que um actor se empenhe. permitam-me ser o milésimo tipo a escrever isto: os diálogos de david mamet são do caraças. ninguém escreve como ele.
despido ao ponto de ser quase esquelético, a beleza de spartan reside, principalmente, na simplicidade com que conta uma história complexa. e até parece simples, não é?
(7/10)jorge(estreia a 24 de junho)
Domingo, 23 de Maio de 2004
um filme de
jonathan hensleighcom
tom jane,
john travolta,
will patton e
rebecca romijn-stamosestados unidos, 2004
imdbpara quem não saiba, esta não é a primeira adaptação de
the punisher ao cinema. em 1989,
dolph lundgren protagonizou um filme baseado nesta personagem da
marvel comics e o resultado foi tão mau que esse filme foi directo para vídeo até nos estados unidos. portanto, se não estiverem familiarizados com a dita obra, não se preocupem, nada de errado se passa convosco; preocupante é, isso sim, se se lembrarem dela. pela parte que me toca, já consegui apagar da minha memória qualquer pormenor relacionado com o filme; subsiste ainda a recordação da sua existência, mas essa eu quero manter, não vá eu encontrar uma cópia num clube de vídeo e não tenha argumentos para contrariar a tentação.
quanto ao novo the punisher, com tom jane no papel principal, bem, encolhe-se os ombros e diz-se «vê-se». nota-se o esforço para fazer as coisas resultarem, mas esse esforço não é direccionado para um objectivo concreto. o filme esforça-se por tanta coisa, distribuindo as suas forças pelo rol de preocupações que o assola, que depois lhe falta o fôlego para equilibrar tudo. the punisher é mais um daqueles exemplos de adaptações de comics presas no limbo, entre a pretensão de ser um filme e o peso das suas raízes.
hulk, de
ang lee, prova que o equilíbrio entre as duas artes é possível e
batman, de
tim burton, prova que a reinvenção é mais válida que a adaptação... ou então, estes dois filmes são tão bons pela simples razão de serem realizados por indivíduos criativos, em oposição aos tarefeiros que os estúdios contratam para fazer vender o peixe.
the punisher é um filme irregular, bom a determinados momentos, mau a outros. exemplo: a certa altura, um assassino profissional é contratado para se ver livre de frank castle/the punisher, mas este não é um assassino qualquer... é o melhor. não só isso, como é também uma incarnação de
johnny cash, com direito a guitarra e tudo. mais ainda, escreve canções que canta às suas vítimas em tom declaração das suas intenções. é uma bela personagem, sem dúvida, que apesar da caricatura tem cabimento dentro de certos limites traçados pelo filme. o mesmo já não se pode dizer de um segundo assassino que aparece, chamado russo, um indivíduo fisicamente desproporcional e vestido segundo manda o cliché para uma personagem deste tipo, que só tem cabimento se o filme expandir os seus limites; coisa que não acontece, atirando toda a sua sequência pela borda fora.
sendo um filme de vingança, a história de the punisher não tem muito que se lhe diga. frank castle é um polícia infiltrado numa operação que termina com a morte do filho de um importante criminoso, howard saint. é claro que este quer vingança e, sob sugestão da mulher, manda matar castle e toda a sua família. morrem todos menos castle e, como seria de esperar, estas coisas deixam o homem chateado. vai daí, toca a reunir todo o arsenal necessário para fazer o maior número de baixas/estragos possível, sendo que howard saint está guardado para o fim. pode parecer que não, mas a verdade é que este filme se preocupa com as suas personagens, concedendo-lhes o tempo necessário para ganharem vida; o problema é que nem todas aproveitam o tempo da melhor maneira (e de quem é a culpa? bem, se os actores até pareciam empenhados, resta o realizador... o que nos remete para o segundo parágrafo e a diferença entre realizadores com tomates e tarefeiros assalariados).
é uma pena, mas the punisher teve o tom certo nas mãos e depois deixou-o escapar por entre os dedos. o seu tema e as suas características implicavam um tratamento mais sério e sombrio, mas, lá está, é preciso tê-los no sítio para depois arcar com as consequências. ou muito me engano, ou, por aproximação ao tema e aos ambientes,
alex proyas, realizador de
the crow e
dark city, teria feito maravilhas. jonathan hensleigh é um novato the punisher é o seu primeiro filme e lá dá um jeito, mas não é suficiente. o que é uma pena, porque the punisher poderia ter sido aquilo que os anúncios a filmes chamam de «a roaring rampage of revenge»...
(4/10)marco(estreia a 3 de junho)
se eventualmente um dia me pedissem para fazer uma lista de produtoras audiovisuais cujos filmes acompanharam a minha infância e foram responsáveis pela formação de muitas outras mentes jovens, ávidas de conhecimento durante os mais verdes anos, não precisaria de puxar muito pela cabeça para dar pelo menos três nomes óbvios:
walt disney,
hanna-barbera e a
cannon. todas elas vocacionadas para um publico mais infantil, sendo que a última foi sempre sem querer...
a cannon, essa maravilhosa pérola da produção cinematográfica adquirida pelos primos israelitas
menahem golan e
yoram globus em 1979 e que cresceu, deu os seus magnificos frutos e faliu no final da década de 80. felizmente deixou-nos um legado cinematográfico de êxitos incontornáveis do cinema contemporâneo. memoráveis peças de arte, que importa relembrarmos serem produto de um contexto político-social invariavelmente ligado a uma administração governativa de ferro, a feridas por sarar originadas por uma guerra falhada e a um clima de instabilidade que gritava constantemente por heróis que levantassem a moral de uma américa perdida.
é então que se erguem personagens como cobra, braddock ou o ninja americano que fizeram as delicias de muita "criançada" por aí fora e contribuíram para fortalecer a casa da cannon. por outro lado, obviamente que só os putos se poderiam contentar com as capacidades representativas desse sinonimo de expressividade que é
michael dudikoff. diria mesmo que um pouco mais expressivo e o michael correria sérios riscos de ser confundido com as partes mais quadradas do cenário.
a beleza da cannon reside exactamente nesse ponto: histórias para crianças onde os actores principais têm talentos tão escondidos que ainda hoje estão por descobrir. e porque não consigo ficar indiferente à nostalgia da cannon que me assola a alma aqui ficam algumas preciosidades para as matinees de domingo:
revenge of the ninja, de
sam firstenberg (1983)
missing in action, de
joseph zito (1984)
invasion u.s.a., de
joseph zito (1985)
death wish 3, de
michael winner (1985)
american ninja, de
sam firstenberg (1985)
the delta force, de
menahem golan (1986)
cobra, de
george p. cosmatos (1986)
over the top, de
menahem golan (1987)
bloodsport, de
newt arnold (1988)
pedro"cannon was really a good company to work for, actually. they made hundreds of movies. they did not have that many hit films, but both yoram and menahem just loved movies. they loved films and loved the filmmakers and really treated them well. it seemed more, when I was there, like maybe what the old system was like. i miss it." -
tobe hoopernão há forma de questionar a importância da cannon, que durante os anos oitenta traumatizou sem dúvida muitas mentes impressionáveis entre as quais a minha (se bem que nesta matéria as minhas lesões cerebrais não passem de arranhões quando comparadas com as do pedro). no entanto há que dar crédito ao primos golan e globus por um pouco mais do que a lista acima. além de
charles bronson,
chuck norris e
michael dudikoff, durante os anos oitenta a cannon foi também casa para
andrei konchalovsky (produzindo
maria's lovers,
runaway train,
duet for one e
shy people),
tobe hooper (
lifeforce,
invaders from mars e
the texas chainsaw massacre 2),
barbet schroeder (
barfly),
norman mailer (
tough guys don't dance),
john frankenheimer (
52 pick-up),
neil jordan (
company of wolves),
liliana cavani (
the berlin affair),
robert altman (
fool for love) e, pasmem-se as almas, até produziu a adaptação de
king lear de
jean-luc godard. apesar disso nunca será possível descolar os braddocks e os ninjas da imagem da cannon, e não sou eu que me vou queixar. tenho o
revenge of the ninja na mesma prateleira da caixa do
dreyer.
contamination, de
luigi cozzi (1980)
the last american virgin, de
boaz davidson (1982)
revenge of the ninja, de
sam firstenberg (1983)
the ambassador, de
j. lee thompson (1984)
lifeforce, de
tobe hooper (1985)
runaway train, de
andrei konchalovsky (1985)
death wish 3, de
michael winner (1985)
thunder alley, de
j. s. cardone (1985)
the naked cage, de
lutz schaarwächter (1986)
barfly, de
barbet schroeder (1987)
menahem golan está de volta com a
new cannon, deus o abençoe.
jorgenota: excluí da minha lista os títulos de chuck norris ao qual já rendi a minha homenagem aqui.
nota 2: de acordo com o livro hollywood a-go-go: the true story of the cannon film empire, de andrew yule, cobra, que o pedro incluiu na lista dele, não é técnicamente um filme da cannon. golan e globus tinham stallone sob contracto exclusivo para fazer over the top e a warner ofereceu-lhes crédito de produção e uma participação nos lucros em troca da cedência do actor para o filme. da mesma forma contamination, na minha lista, foi adquirido para distribuição depois de produzido. mas ambos são cannon no espirito.
Quinta-feira, 20 de Maio de 2004
um filme de
harry kumellcom
delphine seyrig,
andrea rau,
john karlen e
danielle ouimetbélgica, 1970
imdbaka
daughters of darknesshá quem diga por aí que
le rouge aux lèvres é o mais belo filme de vampiros alguma vez feito. também há quem diga disparates ao ritmo de uma metralhadora, mas não me parece que seja o caso. digo que não me parece porque, se por um lado, não vi todos os filmes de vampiros que se fizeram, por outro, este filme de harry kumell é, sem sombra de dúvida, um dos mais belos que já vi (com ou sem vampiros).
alguns de vocês perguntarão «então e
francis ford coppola's bram stoker's dracula?»... okay, acreditem, gosto muito desse filme, mas é tão pomposo quanto o título (e pompa não é beleza). le rouge aux lèvres é de uma subtileza extrema, onde nada é gratuito, do espantoso guarda-roupa à nudez explícita, e nada é supérfluo. não esqueçamos também o desequilibrado elenco do filme de coppola; de um lado temos
tom waits a fazer o que um génio faz e do outro temos
keanu reeves a fazer o que um pé-de-cabra faz (que é como quem diz: estragos). neste campo, le rouge aux lèvres não tem buracos. mais ou menos experientes, os actores brindam-nos com interpertações soberbas. delphyne seyrig, em particular, é memorável. igualmente memorável: a fotografia, os cenários, o guarda-roupa... tudo orientado para a construção de um ambiente de perversão e decadência ocultos pelas aparências sumptuosas e o lirismo aristocrático. feitas as contas, é mais fácil encontrar similaridades com os filmes da hammer do que com qualquer outra linhagem do género.
a história decorre nos anos 70 e centra-se em dois casais hospedados temporariamente num opulento e solitário hotel à beira-mar na cidade de ostende (bélgica). o primeiro casal a chegar é constituído por stefan e valerie, recém-casados e a caminho de inglaterra para transmitir a notícia à mãe dominadora de stefan. o segundo é composto por uma condessa húngara, elizabeth bathory, e a sua protegida e companheira, ilona (é óbvio quem é vampiro e quem não é). à medida que as relações se estreitam e crescem de intensidade entre os quatro, a cidade é assolada por uma série de misteriosas mortes de jovens raparigas, encontradas sem um gota de sangue nas veias. o fascínio de stefan por estas mortes revela a sua personalidade sádica e fragiliza a sua relação com valerie; relação esta já abalada pelas constantes desculpas de stefan para não contar à mãe sobre o seu casamento. a condessa elizabeth e ilona aproveitam a oportunidade e jogam os trunfos que ditarão o trágico fim deste jogo de sedução e de morte.
le rouge aux lèvres é um filme de vampiros, mas não é um filme de terror (ou talvez seja, mas convencional não é de certeza). não há caninos pontiagudos, ninguém se transforma em morcego e o sangue que se vê não é suficiente sequer para uma imperial de 20 cl. em contrapartida, uma das pedras basilares do mito do vampiro, a sexualidade, é recuperada para primeiro plano. não só isso, como é também reconvertida num latente contexto gay/lésbico. a sensualidade transbordante do filme alcança vários picos eróticos, mas nunca descai para a exploração sexual gratuita das situações ou dos corpos. mesmo o olhar sobre a imortalidade do vampiro é feito de outra perspectiva, focando-se mais na perseguição da beleza eterna; a propósito, a condessa húngara elisabeth bathory é uma personagem histórica real a quem se atribui a morte de mais de cem jovens raparigas, em cujo sangue se banhava acreditando que assim se manteria eternamente jovem.
le rouge aux lèvres é um irrepreensível art film, um desafio intelectual instigado pela beleza, o desejo e a sedução. o seu ritmo hipnoticamente lento e o seu visual idílico revestem-no de um apelo sussurrante impossível de resistir. dá vontade de dizer: primeiro estranha-se, depois entranha-se. inesquecível mesmo que se viva eternamente.
(8/10)marco
Quarta-feira, 19 de Maio de 2004
no tempo morto, que é todo o tempo que o zombie tem, não são só filmes que alimentam a sua mente putrefacta. o zombie pode estar morto, mas não é surdo. estes são os sons que se têm ouvido durante as últimas semanas na sepultura.
johnny cash american iv: the man comes around (2002) /
unearthed (2003)
vários kill bill vol. 2 - original soundtrack (2004)
sun kil moon ghosts of the great highway (2003)
david byrne grown backwards (2004)
riz ortolani non si sevizia un paperino (1972)
vários nuggets: original artyfacts from the first psychedelic era, 1965-1968 (1998)
solomon burke the very best of solomon burke (1998)
the new pornographers mass romantic (2000)
lambchop awcmon (2004)
mississippi fred mcdowell i do not play no rock 'n' roll (1969)
Terça-feira, 18 de Maio de 2004
um filme de
stephen sommerscom
hugh jackman,
kate beckinsdale e
richard roxburghestados unidos, 2004
imdbespero que o chão se abra e engula stephen sommers. se um dia, como dizia travis bickle, uma grande chuva vier para lavar toda a porcaria da superfície da terra, tenho a certeza absoluta que
van helsing, e o seu realizador, serão os primeiros a ir na enxurrada. com a religião não se brinca.
não que estivesse com grandes expectativas. afinal estamos a falar do mesmo realizador que pegou num dos mais poéticos horrores clássicos da universal e o transformou num monte de merda fumegante protagonizado pelo
brendan fraser. mas drácula, o monstro de frankenstein e o lobisomem juntos no mesmo filme eram uma perspectiva à qual não podia resistir (afinal
bride of frankenstein é o meu filme preferido). fui à espera do pior e o que é que vos posso dizer? era pior.
o filme começa a preto e branco, naquilo que é uma óbvia tentativa de prestar "homenagem" aos velhos clássicos. e a ver pelas duas horas que se seguem, o conhecimento que stephen sommers tem dos clássicos resume-se a isso: eram a preto e branco. e a melhor homenagem que lhes podia ter prestado era ter ficado quieto.
van helsing (jackman) é um caçador de monstros profissional ao serviço do vaticano. quando o encontramos está em pleno combate com mr. hyde em paris. não o mr. hyde do clássico romance de
r. l. stevenson, o mr. hyde do
league of extraordinary gentlemen. ou seria o
shrek? parecia o shrek... terminada esta missão o próximo destino é a transilvânia para travar os planos de drácula (roxburgh), que parece que metem o monstro de frankenstein, lobisomens digitais e uns ovos do alien (não perguntem).
vestido de
vampire hunter d, armado pelo q do vaticano com o mais avançado equipamento da época (que inclui uma besta que dispara rajadas de setas) e ajudado por uma cigana kung-fu (beckinsdale) que conhece pelo caminho, este van helsing não podia estar mais longe do personagem que
edward van sloan interpretou no original da universal ou
peter cushing popularizou nos filmes da hammer (que fazem aqui sentir também a sua influência, a ver pelos decotes). o van helsing de sommers é um caçador de recompensas, um homem de armas, não de livros. claro que cushing, apesar de ter 45 anos quando interpretou o personagem pela primeira vez, não precisava de ir a correr esconder-se atrás de um duplo digital cada vez que o argumento lhe exigia uma cena de acção.
também no campo dos vilões qualquer semelhança com os supostos homenageados é fruto do acaso. o drácula de roxburgh não tem a suavidade europeia de
lugosi ou a ferocidade carnal que
christopher lee lhe conferiu. é um vilão de trazer por casa completo com sotaque da tanga e a ambivalência sexual dos vampiros de
anne rice. o monstro de frankestein, que nas mãos de
karloff foi um dos grandes personagens trágicos da história do cinema, é uma coisa amorfa que passa o tempo a fugir e a gritar (ficamos também a saber que os dotes de costura do dr. frankenstein deixavam um bocadinho a desejar). os lobisomens são criações digitais com menos profundidade dramática, e toda a ameaça, do mr. potato head do
toy story.
o guião, também da autoria de sommers, é um risível amontoado de sequências de acção sem qualquer noção de ritmo narrativo. a mitologia dos personagens é reinventada sempre que dá jeito, provavelmente porque dá muito trabalho respeitar coisas complicadas como o facto de os lobisomens se transformarem quando está lua cheia. o nível de inteligência do público está nivelado pelos seis anos de idade. uma carruagem cai num precipício e explode. uma carruagem. há uma referência a um telegrama do vaticano. tendo em conta que o filme se passa na penúltima década do séc. xix estranhei que não tivesse sido um e-mail. e depois há a cena final. na altura em que estamos a pensar que a coisa já não pode ficar pior.
a direcção artística e a fotografia armam ao estilizado mas o design gótico não tem imaginação e o filme é todo azul. a banda sonora de
alan silvestri fez-me querer romper os tímpanos com uma caneta. podia continuar por mais vinte parágrafos mas acho que já perceberam a ideia. prefiro enrolar-me em arame farpado e rolar pelo chão sobre cacos de vidro.
(0/10)jorge