Sábado, 31 de Julho de 2004

críticas de bolso: children of the damned e red planet mars

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children of the damned (1963)
de anton m. leader, com ian hendry e alan badel
sequela nominal ao clássico village of the damned de 1960, aqui há putos assustadores de todas as cores e raças. um projecto internacional descobre seis crianças espalhadas pelo mundo com um grau anormal de inteligência. os miúdos são reunidos em londres onde os cientistas descobrem que nenhum deles tem pai e que, além disso, têm uma tendência lixada para controlar telepáticamente as pessoas à sua volta. o filme até começa bem, e o ar solene de superioridade dos putos é suficiente para provocar uns arrepios, mas rapidamente a coisa descamba numa daquelas reflexões morais sobre a intolerância do homem, a sua reacção violenta a tudo aquilo que não percebe ou que é diferente. quando o dilema ético sobre se se deve ou não exterminar as crianças entra em cena o filme começa a arrastar-se. os putos e a atmosfera gótica dos becos londrinos aliviam parcialmente o tédio mas o final é cobarde, começando por prometer uma interessante metáfora religiosa mas acabando por entregar a resolução da história a uma chave de parafusos. (5/10)
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red planet mars (1952)
de harry horner, com peter graves e andrea king
se muitos dos filmes de ficção-científica produzidos nos estados-unidos durante a guerra fria podem ser vistos como metáforas de paranóia anti-comunista, a maior parte deles tentava pelo menos disfarçar. mas aqui não há lugar para subtilezas. o planeta do título é vermelho e, como todos os vermelhos, só tem um objectivo: destruir a américa democrática e temente a deus. um cientista recebe mensagens de marte via rádio, descobrindo que os habitantes do planeta vivem numa sociedade utópica e ultra-desenvolvida. ora isto são boas notícias, certo? errado! o que isto vai fazer é provocar o total colapso da economia americana (que pelos vistos devia estar totalmente assente na assunção de que os marcianos não seriam nem utópicos nem desenvolvidos). a verdade é que as mensagens não chegam de marte mas sim da união soviética. e o tipo que está do outro lado a minar a moral americana é tão mau que não lhe bastava ser comunista, tinha de ser também ex-nazi. mais obtuso era difícil, não era? então experimentem isto: no fim a voz de deus chega pelo rádio para colocar novamente o mundo no eixos, restaurando a moral americana e tirando a rússia das mãos dos sovietes. porque como toda a gente sabe deus também não gosta nada de comunistas. (1/10)
jorge

publicado por jorge às 23:25
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Quinta-feira, 29 de Julho de 2004

crítica: la resa dei conti

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um filme de sergio sollimacom lee van cleef, tomas milian, luisa rivelli e walter barnesitália, 1966 imdbaka the big gundown
leone, corbucci e sollima. por uma curiosa coincidência os três mais importantes realizadores de eurowesterns partilham o mesmo primeiro nome. e se os dois primeiros foram referenciados em cada um dos textos anteriores, esta pequena retrospectiva não estaria completa sem falar do trabalho do terceiro sergio. e de uma pérola chama la resa dei conti.

john corbett (van cleef), um pistoleiro com aspirações políticas, recebe a missão de caçar o mexicano chuchillo (milian), responsável pelo assassínio e violação de uma miúda de 12 anos. para ele é tudo bom, tem a oportunidade de vingar um crime hediondo, ao mesmo tempo que dá um valente empurrão à sua carreira. mas conforme a caça ao homem progride, as coisas não são o que parecem e corbett terá de avaliar a imagem que tem de si próprio como homem de justiça, e colocar em cheque a sua própria ambição.

baseado numa história original de franco solinas, colaborador habitual de gillo pontecorvo, la resa dei conti é um western politicamente carregado, e longe da dimensão mítica dos trabalhos de leone. não há estranhos misteriosos e sem nome ou deuses do revólver aqui, corbett e chuchillo são humanos complexos, parte e produto da sociedade que os rodeia. para isso muito contribuem as excelentes prestações dos dois protagonistas, que o guião conspira para colocar em situações parecidas, como forma de sublinhar semelhanças previamente ocultadas pelo fosso social que os divide. a mensagem política é evidente mas nunca forçada, antes conclusão lógica do desenvolvimento da história.

van cleef, no seu primeiro papel num spaghetti após trabalhar com leone, dá-nos uma das mais sólidas interpretações da sua carreira, como o pistoleiro que começa a duvidar se a sua ambição não o terá transformado em pouco mais que um carrasco pago. com ofertas de papéis deste calibre não é surpreendente que se tenha ficado pela europa depois do regresso de clint eastwood aos estados-unidos. os americanos nunca souberam explorar decentemente o seu potencial. o cubano milian, que recuperaria o papel na sequela corri, uomo, corri, comporta-se à altura do ilustre co-protagonista, e acabaria por se tornar um dos mais importantes actores do cinema de culto europeu dos anos 70.

sollima serve uma fábula moral mas não se corta na acção, com várias sequência memoráveis, sempre acompanhadas por mais uma brilhante banda sonora de ennio morricone, nem nos toques bizarros que se tornaram na imagem de marca do western europeu. la resa dei conti pode ser um trabalho seminal no lançamento do subgénero do spaghetti político mas isso não quer dizer que não seja também entretenimento de primeiro calibre.

(8/10)jorge

publicado por jorge às 19:15
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Domingo, 25 de Julho de 2004

crítica: il grande silenzio

silenzio
um filme de sergio corbuccicom jean-louis trintignant, klaus kinski, frank wolff e vonetta mcgeeitália, 1968 imdbaka the great silence
na pequena cidade de snow hill há bandidos nas montanhas e um grupo de caçadores de recompensas no seu encalço. mas não há nada de heróico nos últimos, e os primeiros são um bando de desgraçados levados ao crime pela fome e pela miséria. há também um oficial corrupto, que controla a cidade, e uma viúva sedenta de vingança que vê num recém-chegado pistoleiro mudo a possibilidade de fazer pagar os responsáveis pela morte do marido.

em il grande silenzio corbucci trocou a lama de django por neve, que cobre tudo e toda gente, e o resultado é uma ruptura ainda mais marcada com a estética do western clássico. fotografada de forma brilhante por silvano ippolito a paisagem montanhosa (os pirinéus em substituição do utah) é, a um tempo, desoladora, cruel, bela e ameaçadora. é a razão, mas também uma metáfora, para o isolamento dos personagens, tão responsável pelo silenzio do título como as cordas vocais cortadas do protagonista.

à beleza formal das composições de ippolito, corbucci junta o seu habitual arsenal de zooms repentinos e filmagens de câmara à mão quase no limiar do cinema documental, a sua crueza estílistica espelhando a violência da acção. e se as imagens são memoráveis e invulgares o mesmo se pode dizer da soberba banda sonora de ennio morricone, que fugido a todos os clichés do género, é capaz de rivalizar com os seu trabalhos mais conhecidos para sergio leone.

jean-louis trintignant interpreta silenzio de forma quase autista, a ausência da voz apenas parcialmente responsável pela sua total incapacidade de se relacionar com o mundo à sua volta. regido por um código moral que apenas lhe permite disparar depois de ser alvejado, é um herói improvável mesmo num género conhecido pela estranheza dos seus (anti) heróis. quando se entrega nos braços da viúva pauline (mcgee), a relação parece despontar menos de afecto genuíno do que do desespero provocado pela solidão a que ambos estão votados. no adversário tigrero klaus kinski tem um dos grandes momentos da sua carreira, carregado de ameaça, e longe dos excessos dramáticos pelos quais ficou conhecido. são duas grandes interpretações, de antagonistas que são também faces opostas da mesma moeda, ambos profissionais que matam por dinheiro.

num género marcado pela ambiguidade moral e pelo pessimismo, os westerns de corbucci são talvez os mais negros e niilistas de todos. aqui o fatalismo parece permear cada fotograma até ao inevitável e deprimente clímax, que fica na memória muito tempo depois do filme terminado. a habitual carga política do trabalho do realizador - o próprio declarou que a maior parte dos seus filmes eram "fábulas proletárias" - está também em evidência, com o político corrupto a utilizar o seu "esquadrão da morte" para controlar a população miserável.

infelizmente o western europeu ainda é visto apenas como uma curiosidade histórica, um género menor incapaz de, com a excepção de leone, produzir obras memoráveis. são a segunda divisão, e quando um é declarado bom parece sempre haver um "apesar de" agarrado à afirmação. podia terminar dizendo que il grande silenzio é um dos mais originais e talvez o mais belo western spaghetti de sempre. mas façam-me um favor e esqueçam a palavra spaghetti na última frase.

(9/10)jorge

publicado por jorge às 23:29
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Sexta-feira, 23 de Julho de 2004

jerry goldsmith 1929-2004

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publicado por jorge às 00:00
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Quinta-feira, 22 de Julho de 2004

crítica: se sei vivo spara

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um filme de guilio questicom tomas milian, marilú tolo, roberto camardiel e patrizia vulturriitália, 1967 imdbaka django, kill... if you live, shoot!
mas não liguem muito ao aka, porque, tal como em dezenas de outros westerns da altura, o nome django no título não é mais do que um isco de pesca de espectadores. se entre essas dezenas, muitos não passavam de reles imitadores, o mesmo não se pode dizer de se sei vivo spara. primeiro, não é reles; segundo, não é imitador. o filme de guilio questi nada tem a ver com o filme de corbucci. claro, podemos sempre pegar pela dinâmica do enredo (dois bandos rivais, muito ouro e um estranho pelo meio) e associá-lo a django, que depois levaria a a fistful of dollars e lá entrávamos nós na árvore genealógica do género… para quê? não vale a pena, porque se sei vivo spara tem muito mais que se lhe diga.

a narrativa arranca com a traição e execução do estranho pelo seus companheiros, que fogem com o ouro e o deixam numa vala comum no deserto. no entanto, o estranho não levou os tiros nos sítios certos e sobrevive. escava a sua saída da sepultura e parte em perseguição dos traidores. quando chega à cidade mais próxima, descobre que a população, liderada por tembler e hagerman, já tratou de os enforcar. esses dois, entretanto, apoderaram-se do ouro e dividiram-no entre eles. para complicar, aparece ainda um rancheiro mexicano chamado zorro, também interessado no ouro, mas ninguém se descose quanto ao paradeiro desse tesouro.

a riqueza simbólica e temática de se sei vivo spara é uma das suas características mais eminentes. o estranho "ressuscita" depois da sua execução pelos companheiros e, mais tarde, é torturado na posição da cruz; a fita na cabeça é a sua coroa de espinhos. os homens de zorro, nas suas vestes pretas, são alusões aos fascistas de mussolini e os seus traços de personalidade convergem para a sua homosexualidade sádica e perversa.

se django já é um bom exemplo da absorção de elementos atmosféricos do horror gótico pelo western, se sei vivo spara será, com toda a certeza, um dos melhores: uma pálida mulher vestida de branco vive presa pelo marido num sótão; um homem, depois de alvejado por balas de ouro, mas ainda vivo, morre quando terceiros lhe rasgam o peito com as próprias mãos em busca das balas; o final é servido segundo receita de edgar allan poe... tudo no filme de questi ajuda a construir um art movie intelectual, bizarro, surreal, violento e singular dentro do género.

(9/10)marco

publicado por jorge às 11:49
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Quarta-feira, 21 de Julho de 2004

crítica: django

django
um filme de sergio corbuccicom franco nero, loredana nusciak, josé bódalo e eduardo fajardoitália, 1966 imdb
carregando a sela às costas e arrastando um caixão, django chega a um mar de lama onde se ergue uma cidade sem nome. veste um miserável uniforme azul da união que significa que django é um ex-soldado da guerra civil americana, ou um ladrão de sepulturas. a dita cidade vive ameaçada por dois bandos rivais; de um lado um bando de mexicanos revolucionários encabeçados pelo general rodriguez; do outro um grupo de sulistas liderados pelo major jackson. django quer vingar-se de jackson por ter morto a sua mulher, mas esse momento está guardado para o final, após muitas voltas e reviravoltas, traições, tiros — muitos tiros; mais do que em muitos westerns juntos e todos disparados de uma só arma! — e gore, muito gore… digamos apenas que alguém come a sua própria orelha e outro alguém tem as suas mãos desfeitas por cascos de cavalos.

há similaridades com a fistful of dollars, mas os dois filmes estão um para o outro como a água para o vinho. corbucci dá aos seus ambientes e às suas personagens identidades próprias que pouco ou nada devem a sergio leone. as motivações podem ser as mesmas — ouro e vingança, mas dentro do género também não há muitas mais —, no entanto, em estilo, leone e corbucci pisam terrenos diferentes (sol e areia para o primeiro, chuva e lama para o segundo). ainda mais notórios são os excessos de corbucci. num género já marcado pela violência, o realizador não faz cerimónia e conduz o seu filme aos extremos da brutalidade e do sadismo.

a fistful of dollars rouba de yojimbo, de akira kurosawa, e django herda essa costela japonesa. o que se começa a perder nesta herança genética é a costela americana. em contrapartida, uma costela italiana, a dos giallo — já presente no filme de leone, mas em estado embrionário — desenvolve-se, abraçando definitivamente o gore e gótico.

django ganhou um estatuto histórico à margem dos filmes de leone por mérito próprio. imortalizou uma personagem, revolucionou o conceito de armamento num western, transformou o actor franco nero numa estrela, originou sequelas e deixou roubar o seu nome por quem quisesse fazer dinheiro à sua custa… o que é que isso interessa? dêem-se as voltas que se derem, the real thing tem um só nome: d-j-a-n-g-o!

(8/10)marco

publicado por jorge às 01:07
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o zombie precisa de férias

quero começar com um pedido de desculpas aos leitores habituais do zombie (todos os três) pelo abandono das últimas semanas. as coisas têm andado com um ritmo frenético e não tem havido muito tempo para escrever. ser morto-vivo dá muito mais trabalho do que as pessoas normalmente pensam. regozijem porém, o zombie está de volta à acção. e, como temos andado viciados em westerns spaghetti, vamos ter aqui alguns dos nossos favoritos nos próximos dias, mais o que se for arranjando tempo para escrever. começamos então com os textos que o marco me deixou antes de ir de férias. o porco.

publicado por jorge às 01:05
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Terça-feira, 13 de Julho de 2004

o zombie não é surdo (tem tido é muito que fazer)

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com as nossas desculpas pela recente lentidão nos updates (o zombie tem andado muito ocupado), cá vai mais uma lista dos discos que têm tocado aqui pela sepultura.

jorge:

loretta lynn van lear rose (2004)o.v. wright giant of southern soul 1965-1975 (2001)pj harvey uh huh her (2004)millie jackson caught up/still caught up (1974/1975 re:1999)the monks black monk time (1966)
marco:

the sundays blind (1992)tindersticks simple pleasure (1999)vários coffee and cigarettes - ost (2003)last days of april if you lose it (2003)sonic youth sonic nurse (2004)

publicado por jorge às 13:51
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Quarta-feira, 7 de Julho de 2004

zombie convidado: antónio pascoalinho sobre o gore italiano


considerado desde sempre como género menor dentro da arte cinematográfica e reservado exclusivamente a pervertidos amantes do sangue e das mortes violentas, o gore (ou giallo para os italianos) é um tipo de cinema pouco divulgado no nosso país. falo daqueles filmes virados para a morte como espectáculo, em que a faca penetra nos músculos do pescoço, a bala destrói "en passant" as cartilagens do tórax e o sangue jorra abundantemente dos nossos televisores para o sofá.

da obra do realizador mario bava sobressaem os primeiros grandes sucessos do horror italiano: a máscara do demónio (la maschera del demonio, 1960), uma história de feitiçaria e reencarnação que confirmou os dotes da então rainha do terror europeu: barbara steele. ficou célebre a sequência inicial com a máscara pregada literalmente no rosto da feiticeira indefesa; cinque bambole per la luna d’agosto (1970), um semi "whodunit" em que um grupo de convidados para uma festa numa ilha acaba por ficar sozinho e indefeso, enquanto os seus membros são chacinados um a um; esse fabuloso baía sangrenta (ecologia del delitto, 1971), verdadeiro percursor da série sexta-feira 13, onde um assassino psicopata (e mesmo mais que um), vai eliminando por ganância os membros duma família com as armas que consegue arranjar, da forma mais violenta possível; ou lisa i il diavolo (1972), uma incursão pelos meandros do filme de demónios, com a turista elke sommer atormentada pelos fantasmas da sua própria morte às mãos do perverso carrasco telly savalas.

de dario argento, o grande mestre do giallo, quase tudo é bom. mas alguns títulos merecem especial atenção: o mistério da casa assombrada (profondo rosso, 1975), um dos primeiros filmes a explorar as potencialidades do gore até às últimas consequências: facadas que penetram a pele, estilhaços de vidro como arma perfurante e a fabulosa morte final no elevador são disso um óptimo exemplo; suspiria (1977) e inferno (1980), são dois items da prometida trilogia sobre "as três mães", da qual o opus 3 continua à espera de ser realizado: mater suspiriorum, a mãe dos suspiros, é uma bruxa com enormes poderes que habita as catacumbas duma academia de dança na suiça. e o horror vai despontar, quando uma aluna recém-chegada começa a investigar mais do que devia (suspiria). mater tenebrarum, a mãe das trevas, vive num bloco de apartamentos em nova iorque. e não descansa enquanto não eliminar cada um dos restantes inquilinos (inferno). são duas obras fortíssimas na filmografia de argento, de um horror explícito animado por sons de rock e repletos das cores dominantes na paleta do seu realizador: vermelho vivo e dourado. terror na ópera (opera, 1987) é talvez a obra mais perfeita do seu autor: demência, vingança, muito sangue e uma violência visual de encenação barroca: a cantora amarrada com alfinetes nos olhos, de modo a que não os possa fechar enquanto assiste ao assassínio do namorado; ou a sequência da bala que atravessa um crâneo e termina no telefone que a heroína usava para pedir auxílio, são imagens dignas de uma antologia do horror. e onde dario argento já tem, forçosamente, lugar de merecido destaque.

do grande lucio fulci, muito haveria a dizer. filmou quase todos os géneros de terror, ficção científica e até mesmo comédias. mas as suas obras mais emblemáticas são, sem dúvida, o enigmático zombi 2 (1979), o filme de mortos-vivos que mais se aproxima do livro de peter tremayne, com a célebre sequência da invasão de nova iorque por um enorme bando de zombies que atravessa a ponte de manhattan, e a não menos célebre imagem da jovem assassinada no duche por uma farpa de madeira que lhe atravessa literalmente uma das vistas. o estripador de nova iorque (lo squartatore di new york, 1982), uma versão de jack the ripper à base de esquartejamentos com lâminas de barbear. e a célebre trilogia dos infernos, composta por os mistérios da cidade maldita (paura nella cità dei morti viventi, 1980), as 7 portas do inferno (l'aldilà, 1981) e a casa do cemitério (quella villa accanto al cimitero, 1981): três obras de cariz mais ou menos exploratório, em que cientistas ou pseudo-detectives tentam encontrar explicação para alguns fenómenos do oculto e acabam sempre enredados em teias do maior horror: demónios, zombies, adoradores de satã e outros quejandos, num manancial de sangue a rodos e goelas cortadas que parece não ter fim. lucio fulci lançou um modelo de filmes de terror. e vasto é já o número dos seus seguidores.

a obra de mario bava está editada em dvd nos estados unidos (zona 1) em "the mario bava collection", fácil de pedir através de www.dvdexpress.com. e na inglaterra (zona 2), em www.salvation-films.com. mas recomendam-se as edições americanas, devido a problemas de censura com as inglesas.

os filmes de dario argento costumam ter várias versões (mesmo em dvd). sugiro as edições da nouveaux pictures para suspiria (versão integral) e tenebrae. da platinum media para o mistério da casa assombrada. e a edição italiana de terror na ópera, responsabilidade da cecchi gori home video. quanto a inferno, o melhor será talvez procurar a edição zona 1 da anchor bay, por ser a única que encontrei com a versão integral do filme.

quanto a lucio fulci, recomendam-se as edições americanas da anchor bay (que tem mesmo uma "lucio fulci collection"), por garantirem a tal integralidade da obra. para zona 2, só mesmo em itália, já que as versões disponíveis em inglaterra estão todas mutiladas.

e assim sendo, espero que disfrutem de muitas horas de entretenimento. ou terror, o que mais vos divertir!

os meus 5 filmes favoritos do gore italiano são:
  • non si sevizia un paperino, de lucio fulci (1972)
  • profondo rosso, de dario argento (1975)
  • suspiria, de dario argento (1977)
  • zombi 2, de lucio fulci (1979)
  • opera, de dario argento (1987)
como aos outros já fiz referência, aqui ficam algumas palavras sobre o "patinho" de fulci:

o ambiente bucólico de uma pacata aldeia italiana é ensombrado por uma série de crimes brutais. vários rapazes são assassinados num misto de pedofilia com rituais satânicos, e as suspeitas parecem recair sobre a "bruxa" da aldeia, uma megera meio-louca que se dedica a práticas de voodoo. mas, quando um jornalista da cidade se junta a uma turista para descobrir a verdade, esta vem a revelar-se bem mais chocante do que os próprios crimes. non si sevizia un paperino é um dos exemplos mais conseguidos dos inícios do gore italiano. realizado pelo mestre lucio fulci em 1972, este é um dos primeiros filmes em que a morte por mutilação (com imagens explícitas de desmembramentos ou de lâminas que perfuram as cartilagens) passou a ser um veículo para a transmissão do sentimento do horror. mas é também um excelente exercício de suspense misturado com "whodunit", já que a história é plena de sobressaltos e a identidade do assassino só é revelada mesmo na sequência final. para "ajudar à festa", a edição do filme em dvd pela anchor bay oferece-nos pela primeira vez a versão integral e não censurada, respeitando o formato original widescreen 2:35:1 e ainda com o trailer e bio-filmografias do realizador e actores. para os amantes de emoções fortes e do cinema de terror, aqui fica a sugestão de mais um título imprescindível, quase desconhecido entre nós, mas que o próprio dario argento classificou como "um soberbo giallo que é dos melhores filmes de lucio fulci". se isso não é referência mais que suficiente, pelo menos não consigo idealizar outra melhor!

antónio pascoalinho(genuíno fanático do horror e o homem que levou a troma e jess franco aos écrans da rtp)

publicado por jorge às 03:21
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Segunda-feira, 5 de Julho de 2004

o zombie já viu: spider-man 2

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um filme de sam raimicom tobey maguire, kirsten dunst, james franco e alfred molinaestados unidos, 2004 imdb
spider-man 2 é mais uma continuação do que uma sequela; por razões que não posso revelar, é também a finalização do filme anterior. o verdadeiro franchise só começará a partir da terceira aventura. claro que há um novo vilão, uma nova aventura para o currículo do homem-aranha, mas não é do super-herói que estou a falar. peter parker é o fulcro desta história. o homem-aranha é um dos super-heróis mais amados porque é também um dos mais humanos. o super-homem é extraterrestre, os x-men são mutantes, o hulk é verde, o batman é um vingador bilionário...

o homem-aranha é um miúdo na recta final da sua adolescência. vive com a família nos subúrbios, é um bocado lorpa, mas é boa pessoa e bom aluno. tem projectos para o futuro e, claro, a miúda dos seus sonhos mal sabe que ele existe. parece um cliché, mas não é... é pura realidade. puxem pela memória e verão que estou a falar daqueles miúdos que andavam na mesma escola - se calhar na mesma turma - que vocês... estou a falar daqueles que se calhar eram vocês.

se para nós o fulcro desta história é peter parker, para ele o fulcro - "de qualquer história digna de ser contada", como ele disse no início do primeiro filme - é uma rapariga: mary jane watson. m.j. é o centro de gravidade da sua vida. passaram de vizinhos a amigos, mas poderiam ser algo mais se parker não carregasse a responsabilidade que advém dos seus poderes de aranha (parker não quer que m.j. sofra por ser namorada de um super-herói, mas tendo em consideração o número de vezes por filme que ela está em perigo, eu interrogo-me qual seria a diferença?). mesmo a condição de amigos está ameaçada pelas constantes desatenções de parker.

as consequências da vida dupla que parker leva não se ficam pelas tristezas do seu coração. os seus empregos em part-time estão condenados ao insucesso e as notas escolares desceram drasticamente; a morte do tio ben continua a pesar-lhe na consciência e o seu melhor amigo continua obcecado por vingança depois de o homem-aranha ter morto o seu pai. tudo isto é areia a mais para a cabeça do jovem parker, que acaba encostado às cordas com uma brutal crise de identidade.

os seus poderes começam a falhar e não são raras as vezes que o homem-aranha se vê em queda livre depois de não ter conseguido lançar uma teia. estes eventos levam parker a questionar as suas opções de vida; talvez o lugar dele seja ao lado de m.j. e não nas paredes de nova-iorque; talvez ele deva voltar a ser aquilo que era e abandonar aquilo em que se transformou. os nova-iorquinos são crescidos... eles que corram atrás dos criminosos e deixem parker gozar um belo cachorro quente ao som das sirenes da polícia.

esta crise surge na pior altura. um super-vilão tentacular, dr. octopus, aterroriza a cidade. parker já não sabe o que há-de fazer à sua vida. para complicar, o seu amigo harry osborn vê neste vilão a oportunidade de se vingar do aranhiço. nova iorque precisa do homem-aranha, mas o homem-aranha precisa de um psiquiatra.

o primeiro spider-man era bom. o segundo é muito melhor. sam raimi expande a dimensão humana das suas personagens principais, aperfeiçoa os efeitos-especiais que no primeiro deitaram a perder a maior parte das cenas onde aparecia o homem-aranha, e incute-lhe o seu estilo visual deliciosamente acrobático.

com a confiança redobrada, o realizador arrisca muito mais e não erra. o drama agridoce é sincero, o humor é servido com precisão cirúrgica, a acção pontua os sítios certos da narrativa e os excessos não são incoerentes. o regresso de tobey maguire quase não se concretizava, mas o que seria o maior buraco do filme - maguire é perfeito para o papel -, acabou por resolver-se. kirsten dunst volta a dar corpo e alma a mary jane watson; a personagem não estagnou no primeiro filme e a actriz dá-lhe continuidade: m.j. cresceu e amadureceu.

os dois primeiros batman (tim burton, 1989 e 1992) estão entre os melhores exemplos do género, mas escavaram a personalidade das suas personagens apenas o mínimo necessário para lhes dar vida dentro do seu universo. hulk (ang lee, 2003) desceu mais fundo, expôs temas, abdicou da acção a favor da discussão e do espectáculo a favor do estilo. spider-man 2 faz da realidade o seu pano de fundo, não abdica do factor entretenimento e leva para casa o troféu de melhor filme de super-heróis de sempre (pelo menos até eu rever o superman de richard donner, 1978).

spider-man 2 dá já as cartas para a terceira aventura, com data de estreia agendada para 2007. raimi superou - e de que maneira! - as expectativas criadas com o primeiro, mas agora a fasquia está muito, muito mais alta. o mínimo que se pede é que seja tão bom como este... e claro, que os cameos de bruce campbell continuem a surgir.

(8/10)marco

publicado por jorge às 17:18
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